Quanto mais verde, melhor
O Brasil é o quarto país do mundo com mais prédios com o selo Leed
de construção sustentável. Ter ou alugar um edifício com essa
certificação não sai barato, mas os ganhos ambientais e de imagem são
grandes atrativos.
O Eldorado Business Tower é um imponente edifício de 32 andares que se
destaca na paisagem da marginal Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
Por estar afastado do conjunto de espigões da avenida Engenheiro Luís
Carlos Berrini, na zona sul da cidade, ele parece não ter concorrentes à
altura. E, em certo sentido, não tem mesmo. O empreendimento é o
primeiro - e, até o momento, o único - no Brasil que obteve a
certificação platina, categoria máxima da Leadership in Energy and
Environmental Design (Leed), o principal selo de construção sustentável
do mundo. Ao todo, apenas 44 prédios corporativos no mundo pertencem à
categoria platina do selo verde emitido pelo Green Building Council
(GBC). A pedido de EXAME, o GBC Brasil fez um ranking dos cinco prédios
mais verdes do país. Além do Eldorado Business Tower, completam a lista o
Eco Berrini, o Rochaverá Corporate Tower, o WTorre Nações Unidas e o
WTorre JK. Todos eles ficam em São Paulo e, com exceção do Eldorado
Business Tower, pertencem à categoria ouro, logo abaixo da platina (o
Eco Berrini está em processo final de avaliação para ser elevado ao
padrão platina).
Vistos de fora, esses prédios verdes não dão a
dimensão exata do que têm de diferente - mas trazem, dentro de si, uma
série de características inovadoras. Quando chove, o Eldorado Business
Tower - que tem inquilinos como Gerdau, Odebrecht e General Electric -
retém 25% da água que iria parar no rio Pinheiros, reduzindo o risco de
alagamentos na vizinhança. A água captada pelo prédio é reaproveitada na
irrigação dos jardins e nos vasos sanitários. Os elevadores possuem um
mecanismo que recupera energia elétrica durante as descidas. Os vidros
de alto desempenho permitem a entrada de 75% da luz solar no edifício e,
ao mesmo tempo, deixam 72% do calor do lado de fora. Esse material
especial representou um custo adicional de 2,5 milhões de reais para a
obra, mas permitiu redimensionar o sistema de refrigeração, gerando uma
economia de 4,5 milhões de reais na compra do ar-condicionado.
O
Eco Berrini, uma torre de 32 andares, de propriedade do fundo de pensão
Previ e alugado para a Telefônica, é mais um prédio que, à primeira
vista, se parece com tantos outros edifícios modernos de São Paulo. Mas é
uma das primeiras construções na cidade que, desde sua concepção, foi
planejada para obter a certificação Leed. Sua fachada é toda
envidraçada, o que garante a excelente luminosidade e reduz o consumo de
energia. Para evitar a entrada excessiva de calor, a solução foi
dividir as janelas que vão do chão ao teto do pavimento em três partes -
as janelas superior e inferior, com vidros especiais, retêm mais calor.
Localizado também na região da marginal Pinheiros, o Rochaverá
Corporate Tower, da incorporadora Tishman Speyer, é um dos maiores
complexos comerciais de alto padrão de São Paulo. Ocupando um terreno de
34 000 metros quadrados, destaca-se por possuir inúmeras áreas verdes,
que tornam o ambiente acessível aos que trabalham ou moram nas
imediações. É como uma praça interligando uma estação de trem e os dois
shoppings vizinhos. "Essa preocupação de inserção no meio urbano é
fundamental para os prédios verdes", diz Marcelo de Andrade Romero,
professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Um edifício
verde precisa ser sustentável desde seus primeiros dias de vida,
reduzindo os transtornos na vida da cidade, como a quantidade de poeira,
o trânsito intenso de caminhões e o barulho na fase de construção.
É preciso considerar também que, uma vez de pé, ele não pode sombrear
totalmente um prédio vizinho. Deve usar a maior quantidade possível de
material reciclado, como refugo de outras obras, ou que tenham rápida
renovação na natureza. A compra de matéria-prima de localidades muito
distantes deve ser evitada. Não faz sentido, por exemplo, um
empreendimento de São Paulo ou do Rio de Janeiro trazer madeira
certificada do Acre, já que essa operação envolve um elevado custo
ambiental com o transporte.
CUSTO E RETORNO
Para
obter a certificação verde, um prédio precisa cumprir vários
requisitos: o projeto deve proporcionar eficiência energética, permitir a
redução do consumo de água, usar material reciclado, melhorar a
qualidade interna do ambiente e apresentar inovações tecnológicas. Com
as soluções avançadas que adotam, os edifícios verdes custam até 7% mais
do que prédios de alto padrão erguidos sem as mesmas preocupações
ambientais. Trata-se de uma conta enganosa. Os prédios sustentáveis
também estão se tornando uma exigência no mundo corporativo graças à
redução de até 10% nas despesas com manutenção. "O retorno operacional
dos edifícios certificados é rápido", diz Marcos Casado, gerente técnico
do GBC Brasil. O preço do condomínio, evidentemente, diminui, mas não o
do aluguel, que tem uma valorização alta. Segundo o portal Zap, maior
banco de dados do mercado imobiliário do país, o preço do aluguel por
metro quadrado em um prédio com o selo Leed chega a ser três vezes maior
do que o de outros imóveis na mesma região.
Apesar da locação
mais alta, muitas multinacionais buscam espaços nos prédios verdes para
seguir o mesmo padrão de sustentabilidade adotado pela matriz no
exterior. "No mundo dos negócios, estar num prédio verde é hoje uma
preocupação da maioria das grandes companhias", afirma Roberto Aflalo
Filho, sócio do escritório paulistano de arquitetura Aflalo &
Gasperini, responsável pelos projetos do Eldorado Business Tower e do
Eco Berrini. Aflalo Filho lembra que, nos anos 70, essa era uma
preocupação no mundo da construção. A regra era erguer o prédio e
vendê-lo rapidamente com o maior lucro possível. Nas duas décadas
seguintes, os fundos de pensão passaram a investir em imóveis, o que
levou ao surgimento de empreendimentos de alta durabilidade e baixo
custo de manutenção. Nos anos 2000, novas tecnologias tornaram viáveis
conceitos inovadores que custavam a sair das pranchetas. "A construção
de um prédio verde é uma decisão econômica que leva em conta o
investimento e o retorno. Um prédio que não incorpora essa visão é como
um carro beberrão, que só se desvaloriza e acaba não sendo usado", diz
Aflalo.
O valor de um prédio verde vai além do tangível - ele
pode ser refletido na imagem das empresas que optam em habitá-lo. "Ao se
instalar num edifício assim, uma empresa busca mostrar à sociedade que
se preocupa com o meio ambiente", diz Romero, da USP. Pode até ser um
passo importante, mas evidentemente não se trata da panaceia dos
problemas de sustentabilidade corporativa. Na China está sendo
construído o primeiro edifício sustentável com 100% de eficiência
energética - produzirá toda a energia que consumir. Ainda em processo de
certificação Leed, o Pearl River Tower, na cidade de Guangzhou, é um
arranha-céu de 69 andares que prevê a geração de energia por meio de
painéis solares e aerogeradores, ventilação em piso elevado e coletores
de água da chuva.
Entre as empresas que ocuparão o espaço está a China National Tobacco Corporation, uma companhia polêmica por natureza.
LIDERANÇA AMERICANA
O
Brasil é atualmente o quarto país do mundo com mais prédios
corporativos verdes - 46 empreendimentos obtiveram o selo e outros 490
estão em processo de avaliação. Os Estados Unidos são, disparado,
líderes nessa área, com 11 385 prédios verdes certificados, seguidos da
China, com 210, e dos Emirados Árabes Unidos, com 50. Dos 44 prédios
corporativos verdes no mundo com certificação platina, 33 são
americanos. No coração de Manhattan, Nova York, fica a sede do Bank of
America, cujo arranha-céu de 55 andares é considerado o edifício mais
verde do mundo. Por estar ao lado da Times Square, onde há conexão para
quatro linhas do metrô, o prédio do Bank of America dispensa garagens
para carros. Na parte invisível para a maioria dos frequentadores, há um
engenhoso sistema de armazenamento de gelo que supre 25% da necessidade
de refrigeração anual do prédio, reduzindo os picos de energia, comuns
em certas horas do dia. À noite, quando a maioria dos funcionários já
foi embora dos escritórios, a sobra de eletricidade é usada para
produzir gelo para o dia seguinte.
O primeiro prédio verde de
Nova York foi o Hearst Tower, sede do grupo de mídia Hearst Corporation.
A moderna torre, projetada pelo arquiteto britânico Norman Foster, foi
concluída em 2004 e preservou as características do prédio original de
três andares, construído em 1928. A torre gasta 26% menos energia do que
um prédio convencional, retém 25% da água das chuvas e conseguiu
diminuir em 869 toneladas a emissão anual de gases do efeito estufa, o
correspondente à retirada de 174 carros das ruas.
Na Índia fica o
único prédio corporativo fora dos Estados Unidos entre os cinco mais
verdes do mundo. O Kalpataru Square foi o primeiro projeto na Ásia a
obter a certificação Leed. Localizado próximo ao aeroporto de Mumbai, o
empreendimento foi erguido para impulsionar o crescimento do distrito de
negócios de Andheri. Seu projeto previu a redução de até 61% do
escoamento da água de chuva, que é reaproveitada na irrigação dos
jardins e nos vasos sanitários. Os indianos acreditam que
empreendimentos como o Kalpataru Square podem estimular outras empresas a
investir na melhoria de sua sede, ajudando a criar uma nova imagem para
o país.
OS PRÉDIOS MAIS VERDES
O Brasil
tem 46 prédios corporativos com o selo verde Leed. Abaixo, os cinco
melhores. Apenas um deles, o Eldorado Business Tower, pertence à
categoria máxima, platina
OS MELHORES DO BRASIL:
Eldorado Business Tower/São Paulo
Eco Berrini/São Paulo
Rochaverá Corporate Tower/São Paulo
WTorre Nações Unidas/São Paulo
WTorre JK/São Paulo
No
mundo todo, os Estados Unidos lideram as certificações, com 11 385
prédios corporativos verdes. A seguir, o ranking dos cinco melhores do
mundo
OS MELHORES DO MUNDO:
Bank of America Tower/Nova York, Estados Unidos
Banner Bank Building/Boise, Estados Unidos
1200 Nineteenth Street/Washington, Estados Unidos
Kalpataru Square/Mumbai, Índia
1800 Larimer/Denver, Estados Unidos
Fonte: Green Building Council
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