segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

“A ciência do peixe”


Era uma vez um pescador chamado João Firmino, mais conhecido como Seu Firmino, o pescador. Morava numa comunidade, às margens de um belo rio com um bom volume de água e boa extensão. Desse rio, ele tirava não só o alimento de todos os dias para si e sua família, como também vendia os peixes para garantir a sobrevivência deles. Seu Firmino era casado com D. Juvanete e tinha uma filhinha chamada Jandira. Viviam de forma simples e nada lhes faltava. Porém, sentia-se bastante intrigado com algo que sua esposa fazia há dez anos, desde o início de seu casamento, mas nunca teve coragem para perguntar-lhe o porquê de tal prática. O mais interessante de tudo isto é que ao ouvir essa história pela primeira vez, lembrei-me de vários momentos (na escola) em que estive diante de uma pessoa com quem convivia há algum tempo (o professor) e, mesmo com uma boa relação, ainda pensava duas vezes antes de perguntar-lhe algo.
Você já passou por isto? O que nos leva a evitar uma pergunta ao professor? É claro que nem todas as pessoas passam por isto, mas esta é a realidade de muitos alunos. No meu caso, era vergonha. Tinha medo do que os outros iriam achar, pois não sabia se a minha pergunta era inteligente ou se demonstrava a minha falta de conhecimento sobre o assunto. Se você já passou por isto, pense no motivo que o impediu de perguntar. Retomemos a nossa história. Firmino tinha uma pergunta para fazer a sua esposa. Certo dia, na hora do almoço, ele olhou para a panela cheia de peixe cozido (todos cortados ao meio) e disse:
- Juzinha, minha filha, quero te perguntar uma coisa...
- Diga, Firmino
- Eu queria que você me explicasse a razão de preparar o peixe da mesma forma há dez anos?
- Como é? – questionou a esposa sem entender nada, olhando para Firmino.
- É que há dez anos você corta o peixe em duas bandas para cozinhá-lo. Sempre em duas bandas!!! Eu não entendo! Deve haver uma razão para isto, você muda o molho, mas sempre prepara o peixe da mesma forma, cortado ao meio!!!
- Haa! É isto?! É simples, Firmino. É a ciência do peixe.
- Como assim? Deve haver alguma explicação para isto!
- É como eu disse, é a ciência do peixe. A minha mãe me ensinou assim, e é assim que é feito.
- Não estou conformado!
Firmino então pegou o seu barco e desceu o rio. Foi até a casa da sogra em busca de uma resposta satisfatória. Ao chegar à casa da sogra, foi recebido por ela com um sorriso no rosto.
Firmino logo explicou-lhe o motivo da visita e ela, com outro sorriso, disse-lhe:
- Não acredito que você veio até aqui só para saber o porquê de o peixe ser cortado ao meio na hora de ser cozido!!!
- É isso mesmo, estou querendo muito saber. A senhora pode me responder?
- Claro!!! Aprendi isto ainda pequena. É muito simples, ele é cortado assim porque esta é a maneira que se faz , é a ciência do peixe.
Firmino quase engasgou e disse:
- Olhe, não quero saber de ciência alguma. Eu quero saber o porquê de o peixe sempre ficar cortado ao meio! Qual o MOTIVO?
- Olha, Firmino, esta é a ciência do peixe. Foi minha mãe que me ensinou, ela mostrou como se fazia e eu mostrei a minha filha. É assim que se faz, é a ciência do peixe!
Firmino não pensou duas vezes, pegou o barco e desceu o rio ao encontro da avó de sua esposa. Desta vez ele tinha certeza de que encontraria uma resposta satisfatória.
Ao chegar à casa da avó de sua esposa, a nobre senhora, conhecida como Dona Antiga, saiu e o atendeu. Mais uma vez ele narrou o acontecido e a senhora sorriu:
-  Não acredito que você veio aqui para isto!
- Sim, vim em busca de uma resposta. A senhora pode me explicar?
Nisto, ela respondeu algo que deixou Firmino mais intrigado.
- Não acredito que ainda fazem o peixe assim.
E Firmino respondeu assustado e surpreso:
- Como assim? O que a senhora quer dizer com isto?
- É que na minha época, meu filho, as panelas eram de barro e pequenas, então tínhamos que cortar o peixe ao meio para caber dentro delas, mas hoje não precisa porque as panelas são grandes.

Com isto, chega ao fim à busca de Firmino por uma resposta satisfatória.

Moral da história: Seja motivado em tudo que você faz, busque o aprendizado, o saber. É importante atentar que esta história nos mostra, de forma lúdica, que fazemos e aprendemos muitas coisas simplesmente sem saber o motivo de elas serem daquela forma e, sendo assim, surge a repetição, a cristalização e a perda da espontaneidade.

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